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Livro vencedor do tradicional prêmio literário Moacy Cirne 2019, promovido pela secretaria de cultura de natal, rio grande do norte apresentação:  o premiado romance do escritor Aluísio de Azevedo Júnior possui um enredo digno de nota. 

Uma elaborada trama que interliga vários aspectos da sociedade brasileira em sua narrativa. em um romance de viés psicológico e sociológico, eis as tantas e desencontradas faces religiosas, sociais e políticas de nosso brasil contemporâneo. é um misto de linguagens metafóricas onde, ao tempo que narra acontecimentos, seu texto aflora questões atuais, típicas de conhecidos golpes político-jurídicos. 

Realidade forjada na extrema desigualdade social, no fundamentalismo religioso e nas disputas ideológico-paradigmáticas entre esquerda e direita. a pequena paixão do rio vento é o brasil, é o mundo contemporâneo. no campo das desigualdades, ressalta a pobreza do mendigo, severo, contrapondo-se às suas possibilidades intelectuais cerceadas pela condição material. 

E, ainda, destaca sua condição de imigrante, forasteiro em terras distantes (drama e preconceitos vividos por nordestinos, brasileiros, africanos, pessoas em todo o mundo). aborda o papel do feminino, realçado por Cibele, uma mulher de posição crítica e revolucionária, presente em toda a trama, porém oscilando entre a sua centralidade e não centralidade.

Encontramos exposta a diversidade humana e afetiva, explorando o universo de sentimentos recalcados, numa relação homoafetiva vivida por dois personagens do campo jurídico. Ressaltam-se os preconceitos e tormentos advindos da orientação sexual reprimida e permeada de questões geracionais. 

No campo politico, dentre outros elementos manipuladores, destaca-se a intervenção midiática, comum ao brasil e ao mundo, e seu papel quase criminoso na construção da opinião. enfim, é um romance de tramas entrelaçadas, assim como, de fato, constitui-se o tecido social. é fácil de perceber tudo isso? Não. 

Para compreender tantos entrecruzamentos sociais, requer, sobretudo, reflexão e bastante atenção na leitura. e o que falar da construção semântica do texto? De grande profundidade de conteúdos e sentidos permeados por vasta riqueza vocabular e diversos referenciais históricos e geográficos. o autor ainda nos presenteia, nas entrelinhas, com referências da literatura mundial. 

Um aspecto bastante peculiar do seu trabalho, que merece estudo aprofundado. enfim, outro grande trunfo da obra encontra-se na construção da narrativa. arquitetada em uma história contada pelo mesmo narrador, que morre e renasce (por não aceitação da morte) nos personagens principais de cada um dos quatro atos do livro.

A cada ato-capítulo, elege-se um novo protagonista para a mesma história. os personagens, assim, vivem e revivem os mesmos encontros, desencontros, inclusive a impactante revolução dos comunários, no curto período da páscoa e suas imediações. até que, enfim, o narrador que desafia o tempo e a morte, chega ao lugar-destino de sua paixão dos mortos. quer saber mais? 

O jeito é mesmo adentrar ao livro, e seguir em frente, aventurando-se, em meio aos raios sugestivos, em auto-peregrinação.