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NORDESTE DO BRASIL, 1942/1945: A Segunda Guerra Mundial foi aqui! 1944: na Europa, Nazismo e Fascismo perdiam espaço (a Batalha de Stalingrado teve seu desfecho em fevereiro de 1943; o desembarque de tropas aliadas na Normandia se deu no dia 6 de junho de 1944); no Brasil, o "Estado Novo" (1937/1945), junto com outros estados nacionais latino-americanos foram constrangidos a combaterem os nazi-fascistas, com quem dialogavam cordialmente até tão pouco tempo, e a ditadura daqui enviou soldados para a Itália contra ex-quase-irmãos - impérialisme oblige...
Essa guinada foi ao encontro da causa dos Aliados (a Argentina só declarou guerra ao que havia restado do "Eixo" em 1945) e acelerada, sobretudo, após a III Conferência dos Chanceleres Americanos, sediada na capital federal brasileira em janeiro de 1942, responsável pelo posicionamento oficial da maioria desses estados
nacionais a favor do símbolo da campanha aliada, o "V da vitória".
A presença militar estadunidense foi além da ancoragem de navios e pouso de aviões militares: desembarcavam em nossas fronteiras, sobretudo no Rio de Janeiro, celebridades hollywoodianas, cantores, atores, capitalistas, chefes militares e políticos das terras de Tio Sam que passaram a enxergar o Brasil não apenas como o "Trampolim da Vitória" (termo empregado pelo Estado Novo para designar e promover a cidade de Natal) mas,
especialmente, identificaram uma oportunidade para transações comerciais e culturais que aprofundariam nosso flerte com o modo de vida estadunidense.
Isso, é claro, sem contar os vários milhões de dólares injetados na economia nacional, bem aproveitados por Vargas para propagandear, via imprensa censurada, seu projeto de Brasil - agora, ostentando os vizinhos ianques lado a lado com a ditadura. Fez parte desse pacote, portanto, a presença de tropas ianques no Nordeste brasileiro, quer em instalações militares, quer diluídos no cotidiano de algumas cidades.
Essas áreas foram classificadas como estratégicas em relação a África e Europa, cenários ainda mais imediatos daquela guerra. O presente volume traça um painel de tal presença em São Luís, Teresina, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió, Aracaju e Salvador. A entrada do Brasil na guerra englobou o torpedeamento de navios brasileiros nas águas nacionais.
Submarinos supostamente alemães (os nazistas negaram isso, houve rumores sobre outra
nacionalidade) vitimaram brasileiros. A guerra era considerada pela ditadura estadonovista, até dezembro de 1941 (ataque japonês à base de Pearl Harbor), como um problema distante da segurança americana. O povo nordestino foi o núcleo brasileiro que vivenciou em primeira mão os horrores do conflito ao se deparar com corpos de compatriotas que davam em suas praias: o conflito estava aqui.
Nordeste do Brasil nunca teve homogeneidade: estamos diante de experiências locais, estaduais, regionais, nacionais e mundiais, que englobam poderes, classes sociais, gêneros, gerações e etnias em permanente mistura, inclusive Coca-Cola, consumo de enlatados com prazo vencido pelos pobres da região (contra miséria e fome, o risco do botulismo) e difusão de exames de toque retal e preservativos, em prostíbulos ou não - soldados confraternizavam intimamente com nativas e nativos e procuravam evitar contrair novas doenças, mesmo que, talvez, difundissem outras.
Seria ótimo que o Nazi-Fascismo tivesse simplesmente deixado de existir em 1945, com a derrota militar dos governos alemão, italiano e japonês. A História se revela mais complicada que esses aparentes pontos finais. Governos para fascistas sobreviveram tranquilamente até à morte de seus ditadores - Franco (+ 1975), na Espanha, e Salazar
(+ 1970), em Portugal, são os mais visíveis.
Apartheids sangrentos continuaram a existir nos EEUU (até 1964/1967), na Rodésia (até 1978/1980) e na África do Sul (até 1994). Ditaduras inomináveis retomaram práticas nazi-fascistas nas Américas e noutras partes do mundo. Limpezas étnicas ressurgiram na ex-lugoslávia novamente capitalista. Imigrantes continuam a ser tratados de forma destrutiva na Europa, nos EEUU e noutras partes do mundo, inclusive no Brasil.
Racismo e violência florescem na campanha presidencial brasileira de 2018, falas explicitamente racistas e suásticas foram alegremente exibidas. "Tempo sem sol" (Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri, "Tempo de guerra", a partir de Bertolt Brecht). "Negror dos tempos" (Caetano Veloso, título e verso). "O sol há de brilhar mais uma vez" (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, "Juízo final"). "Fim da tempestade, o sol nascerá (Cartola, "O sol nascerá").
Marcos Silva (Professor na FFLCH/USP)
Vandré Teotonio da Silva (Doutor em História Social pela FFLCH/USP)
§ Título: Nordeste do Brasil na II Guerra Mundial
§ ISBN: 9786556081038
§ Gênero: 1. Brasil - História; 2. II Guerra Mundial; 3. História - Pesquisa
§ Idioma: Português
§ Páginas: 392
§ Ano: 2021 (2º Edição)
§ Editora: IDEIA LTDA
§ Lugar: João Pessoa