Aqui a poesia nos surpreende pela construção simples, despojada de metáforas. Essa narrativa nos conta o que o poeta retirou do seu baú de lembranças. E Isso pode gerar um agradável impacto, pois a gente vai se apercebendo da riqueza de personagens, cenários e situações que nos envolvem e nos capturam. Quando menos esperamos, surge um Seu Cícero que presenteava o avô do autor com batata-doce e jerimum. Uma tia que tem medo de dormir e não acordar. 

Uma descrição nostálgica de um dia de Finados, as nuvens, cada uma, com sua própria cor. E vem a inusitada pergunta se os mortos conseguem enxergar essas cores. E a velha Tete que passa o dia na rede e tem uma tosse que atrapalha as pessoas escutarem a teve? Fala do pai, aos 81 anos, na cadeira de rodas, fazendo uma pausa na sua Tuta contra o câncer para "beber o mijo do neto". (p.37, O primeiro passo). O poeta arrisca afirmar que "muitos homens/nunca lerão um poema... Pois eu recomendo que muitos leiam esse livro. 

Para uma busca de si mesmos, à cata de seus próprios guardados que podem revelar, quem sabe, a sua verdadeira face. E que esses leitores também despertem em si a vontade de escrever poemas que sirvam de abrigo, como nos fala o autor. Por isso, escrevamos Sobre os nossos guardados. Muito haveremos de descobrir e partilhar. Talvez, Consigamos nos encantar com aquele momento mágico em que a gente "encontra a felicidade tomando chá".

Aqui, o espaço é pequeno para se revisitar cada poema, como merecia. Assim, daqui pra frente, deixo ao encargo do leitor passar os seus olhos de bateia pelo livro e peneirar, entre as areias, os grãos preciosos dessa poesia da mais fina qualidade.

​​

§ Título: Guardados ​​

§ ISBN: 9788555181450

§ Gênero: Poesia

§ Idioma: Português

§ Páginas: 76

§ Ano: 2019

§ Editora: Sarau das Letras

§ Lugar: Mossoró/RN

§ Sobre o autor: Sérgio Queiroz de Medeiros nasceu em 1981, em Mossoró (RN). Apesar de ter nascido numa cidade sem mar, prefere morar perto dele. Toma café várias vezes ao dia, em xícaras grandes ou pequenas. Já foi um leitor assíduo da revista Placar e passou grande parte de sua vida assistindo a programas esportivos. Sua cor preferida é o azul, embora, às vezes, flerte um pouco com o vermelho. Um lugar azul é seu primeiro livro de poesia e sonha algum dia escrever um romance.