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O novo trabalho literário de Fernando Luiz, intitulado "Dias Cinzentos, Noites Douradas", revela um pouco mais do artista e de suas habilidades no trato com a palavra. Escritor com alguns livros no currículo, artista e intérprete musical reconhecido, Fernando nos surpreende, ao apresentar seu inédito texto ficcional e memorialista. 

Sua escrita se mostra cuidadosamente contextualizada, descrevendo cenários impecáveis de época, falas e vocabulário ajustados. Um primor de pesquisa e esmero detalhista. Para o autor, o livro significou realização de uma contação necessária, de um reviver da juventude sempre dourada, da predestinação excepcional, em busca de futuro e oportunidades (que eram reservadas a poucos). 

Algo que certamente o revigora, como registro de seus próprios legados, além de inspirar os leitores, na contínua escalada da vida. Olhares mais aprofundados não se esquivarão de revolver as entranhas políticas da história. Elas chamam a atenção. Impossível não perceber as vísceras dos expropriados culturais. O remontar de primórdios do nosso processo de colonização cultural, da imposição de costumes e da própria língua inglesa, copiada sem fazer qualquer sentido, encenada em mímicas vocais. 

Emblemático o envolvimento de personagens que representam a segregação de classes sociais e econômicas. Como não destacar o casamento do jovem rico com uma estadunidense de passagem pelas terras potiguares? Casamento eterno, diriam alguns. Nos bancos escolares, a breve narrativa do embate de conservadores e vanguardistas. 

Algo que nos deixa até ávidos por algo mais na trama, enquanto o personagem central se mantém numa terceira via estagnante, para usar termo bem atual. O amor, a sensibilidade emocional. Este livro nos revela especialmente afetividade. 

O enfretamento dos reveses, a superação que se faz menos pragmática, menos prática ou material. A construção do futuro, a partir de uma sensibilidade emocional. Quem sabe, o caminho para nossos próprios resgates.